Z-11) Ciclo dos 400 Sonetos - vol. III > 226 págs
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Espicha o fole da sanfona na fresca silhueta
De um prédio novo e chique a festiva sombra...
Gente desocupada quase perdida a esperança escombro;
Já cansada de tanto bater as portas do emprego (a coisa está preta)!
Então fica ali, a ouvir o Zé espichar o fole da sanfona eufônica...
Que já esteve ferrado, que para vir ao centro da cidade, pedia carona.
E para melhorar o seu nível aprendeu a cantar outros idiomas...
Hoje, muito lhe põe dinheiro e aplausos! E leigos - o riso irônico!
Na sombra do prédio chique o Zé derriça uns bons trocados
Com a sua sanfona. E toda a tarde fica sorrindo à toa!
Minha nossa!... Posso dizer que estou bem empregado!
E assim ele faz todos os dias - que até já se acostumaram a ir
Nesse seu teatro de rua para vê-lo cantando ao palco calçado;
De alma feliz e cheia de canções bem afinadas.
Soneto 902: O grito de anjo
Um grito estridente e esticado arrombou a garganta
E o bucal divino sem dente com seu eco estremecido!...
E mergulhando nos vales dos montes anunciou o perigo...
Que corria os ocupantes do jipe caído da ponte tonta...
O grito tiniu sem demora nos ouvidos de um caminhante forte!
Que ouvindo, veio logo correndo rápido feito um foguete...
E pulando sobre as águas, logo os salvou daquele acaguete,
Da maligna ponte que sempre entrega alguém a morte!
Aquele caminhante forte que sozinho arrancou das águas
Aquele jipe azul com um casal e duas filhas moças;
Nada mais era de que, “Um anjo contra a tal saga! ”.
“Um grito divino e um socorro forte! - Despistaram as mortes! ”.
Eram dois anjos evitando que as mortes fizessem os abortos
Numa família inteira, ante da sua hora: Oh, Deus que sorte!
Soneto 903: A mulata da praia
Na felodérmica pele se expõe (aos olhos curiosos)
O corpo feminino em debruço junto à praia;
E de vez em vez... O corpo dá uma volta e põe no ar aquele bah!...
Minha nossa!... Que mulata linda! São dois lados gostosos!
Não há nenhum olhar masculino, espada, que não goste dessa fruta,
Por mais que ele se disfarce, por uma necessária educação!
Pois o sensor dos sentidos sempre dá aquele trancão!...
E o cabra, sempre acaba olhando emanado de teso pela fruta.
Nesse come-come platônico de fruta por olhares ocultos...
As veias latejam inchadas de tesos aos tantos insultos...
Que acaba transparecendo aquele arzinho de tara, mesmo em público.
O cara que vê e não pode fazer nada! E exibe um olhar masturbado...
Perturba a si e a mulher que caminha do lado, pelo o olhar em cio...
E se a tal for destrambelhada... manda-o, ir à puta que o pariu!...
Soneto 904: Atualização profissional
Já faz tempo que os ossos se abalaram
Dentro das carnes de muitos ofícios.
Por isso, cambaleiam com tantos sacrifícios!
Os corpos profissionais - de onde, muitos já se exoneraram.
E foram procurar outros corpos profissionais
Que tenham uma estrutura óssea mais adequada;
A suportar o peso de seus corpos e impactos ao serem chocados
Com as mudanças constantes nos sistemas sociais.
É necessário reestruturar o sistema ósseo
De cada oficio decadente, mediante as novas tecnologias;
De outra forma, os profissionais se quebram em suas utopias...
Neste caso, os sonhos são realizáveis a tais corpos profissionais,
Mas as estruturas ósseas, capitalismo e tecnologias,
Não podem falhar para a tal e qual, real utopia...
Soneto 905: Cacos-de-lua
Oh, cacos-de-lua! Das turbadas noites imensas...
Onde os solitários não têm medo de acolher o clarão lunar,
Para despintarem a dor do peito e a cratera do vago sonhar...
Antes tão excitantes, e agora tão distantes... suspensos...
Oh, Cacos-de-lua! Cresça logo para me acalmar
Das turbadas noites imensas... com o teu completo lunar.
Aqui em baixo... espera-te os amantes, maior luminosidade!
Cresça logo oh... Cacos-de-lua! E traga-lhes a cheia felicidade.
Os amantes esquecidos te amarão com mais garridas...
Eles te contemplarão como se pudesses matar a solidão:
São amantes desejosos desiludidos de suas paixões.
Cacos de lua e cacos-de-paixão precisam crescer:
Que a lua volte a ser inteira contra a gigantesca escuridão!
E que os amantes solitários, encontrem no amor, novas ilusões.
Soneto 906: Ideias raquíticas
Oh! Que raquíticos são as vossas ideias - fico imaginando...
Será que lá dentro, existe?... O encéfalo com o seu sistema:
O cérebro, o cerebelo, a protuberância e o bulbo raquiano.
Sei não... acho que falta algum componente do sistema...
É quase inacreditável que ainda exista raciocínio com tanto clivo...
Com pensamentos se escorregando em cambalhotas horríveis!
(São campos psíquicos com abismos caóticos incorrigíveis).
E os tais, ainda se acham experientes, destacáveis e ativos...
O que se dirá?... Que o maior raquitismo cerebral nesse caso,
Seria o tal convencimento, de experiências e visões exemplares;
Onde a idiotice se deifica a deuses, mas de fúteis altares...
Se, os verdadeiros sábios não gostam de se mostrarem? Aí se nota:
Que, quem, ainda se mostra... é porque ainda não chegou lá!...
São esses: semissábios e aprendizes - idiotas e infra-idiotas.
Soneto 907: Infensores da natureza
Ó infensores da natureza, que enfoca o bom senso ambientalista,
Com vossos infratos sensos - pondo em risco a nossa natureza.
Ó que fosfeno ver... Tem a vossa brutal indelicadeza,
Para destruir as árvores e rios - territórios e belezas.
Que além de gerar prejuízos com os crimes ambientais,
Arrebentam as paisagens com impiedosas ações ante cultural.
Raciocínios assim estão vazios, sem qualquer poder altruísta....
Porque só cuidam daquilo que lhes dão lucros ou prazer as vistas...
São gananciosos e querem riquezas a qualquer preço!
E maldosos para com os bens ambientais,
Que são de todos os seus compatriotas num mesmo apreço!
Mas não tendo, denota-se: que tudo pode vir de morro abaixo...
Desde que consigam aquilo que tenha por conquista individual;
E nada mais lhes importa: são feras humanas da liga do mal.
Soneto 908: O filho da luz!
Sou filho da luz em elevada amplidão!
Ora estou na terra, ora me elevo aos céus!...
O meu espírito místico passa pelo véu...
Ora me elevo aos céus!... Ora me vejo ao chão...
Um véu tão misterioso que não dá para explicar:
Os homens comuns nunca iriam acreditar, que Deus!
Sendo sábio e bom - reservou para os seus:
A luz e a voz que fala a uma alma, no seu altar.
Ser de Deus é usufruir o místico poder celestial!
Ser de Deus é sentir no coração a presença divina!
E sentir na pele todas as afrontas do mal.
Ser de Deus não é só carregar as prosperidades
Dos dons divinos e bens materiais:
Ser de Deus é aceitar as distribuições de sua Majestade!
Soneto 909: Ciranda de pedras (tristezas e alegrias)
Quando o riso enforca a tristeza com gargantilhas de ouro!
Fica-se dela somente a gargantilha com o seu nobre decoro...
Em testemunha aos tempos de entorpecidas histórias,
Em que, a vida escreve e punha na robusta memória...
Alegrias e tristezas - risos E lágrimas nos compõem a vida.
Ninguém será somente feliz e nem tampouco, só infeliz:
Se puxarmos os rascunhos da vida de cada um ao diz...
Ouviremos nas mesmas histórias: atos deslumbrantes e doloridos.
Alegrias e tristezas - São pedras que se sobrepõe à peneira...
Numa habitualidade de ciranda de pedras in trigueiras...
Fazendo os vaivéns no espaço da vida inteira, numa satírica porfia...
Onde o nosso coração precisa jogar a peneira do equilíbrio a cima...
Para tirar as pedras negras de tristezas que escurece o nosso destino...
E quanto, às pedras brancas de alegrias! Segurá-las como arrimo.
Soneto 910: matrimônio sem cor
Quando o teu olhar tinha as cores da ilusão...
Para misturar com a negra cor da realidade!
A gente imprimia, numa vida difícil, a felicidade!
E isso, embelecia os projetos da nossa paixão.
Incredulamente, de repente tudo veio a pique...
Os teus olhos desconfiguraram as cores do olhar
E perdeste todo aquele encanto que tinhas de me amar!
- Os nossos momentos eram desejos e piqueniques...
Agora só nos resta a tinta preta do negro olhar
Imprimindo as chatices da rotina - na linha reta ou esquina...
Sustentando-nos nas suas mesmices: Ful!... Que sina...
Que sina ingrata é esta? Que nos impõe a um convívio anêmico
Sem emoção... Que por necessidades de estarmos juntos:
Imprimimos a vida preta - sem as cores sexuais dos atos cênicos.
Soneto 911: O naufrágio da canoa branca
Dança e dança... lá longe... enroscada a costa do rio,
Uma canoa branca e furada (desejando as encostas).
Ela se bate enroscada nos ganchos do rio. E indisposta.
Dá mil cambalhotas... forçada ao asco calafrio...
Ai, ai, ai... lá se foi à canoa branca afundada nas águas...
Só porque no seu fundo se fez um buraco:
Pobre canoa agora se vai com o seu destino ao naco...
Sentindo a dor de sua pré-morte em áscua frágua...
Rompeu sua vida por um furo bucal de nada...
E bebendo água, qual gente, morre afogada...
Salvo, se alguém encontrá-la para salvá-la: Tomara...
Do lado de cá... ouve uma grande glória com os canoeiros:
Os três se salvaram a nado com suas braçadas boas!
Enquanto se olhava preocupado com o estrago de uma canoa.
Soneto 912: Garota especial
Garota bonita da pele macia e olhar picante:
Você parece uma abelhinha...
Vem picar a minha língua com uma mordidinha:
Dá-me um beijo quente dos mais excitantes...
Você me enlouquece com este teu olhar de mel...
Tudo em você parece docinho com cor de ouro!
Garota bonita da pele macia... meu tesouro!
Tudo em você me inspira desejos ao léu...
Quero o assanhar dos teus beijos elucidados,
Acerca de este querer que me põe nos olhos...
Que lhe quero tanto... E tanto... que fico encantado!
Tua pele macia tem a cor da magia, que parece mudar...
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